Estado Modificado de Consciência (EMC)
Está presente sempre que exista uma modificação na experiência subjetiva ou funcionamento psicológico, reconhecido pelo próprio ou por um observador, em relação a certas normas gerais para um determinado indivíduo (Kokasha,1987). Estados fisiológicos seriam o sono e o sonho. (apud Guimarães e Tinoco, 2010). Do ponto de vista de Walsh, em O espírito do Xamanismo, os xamãs têm a habilidade para entrar em estado de transe através da alteração da consciência. E alguns destes estados podem ser tanto psicológicas como psicossomaticamente curativos, ou seja, de autocura. O relaxamento parece ser o mais simples e o mais utilizado destes estados. A auto hipnose é um recurso de meditação e autocura que se inicia com o relaxamento.
Stanley Krippner em “Estados Alterados de Consciência” descreve vinte estados de consciência. O estado onírico (sonhos), estado adormecido (atividade mental durante), estado hipnagógico (entre a vigília e o sono), estado hipnopômpico (entre o sono e a vigília), estado hiper alerta (vigilância prolongada), estado letárgico (atividade mental embotada e entorpecida), os estados de arrebatamento (sensação intensa e emoção excessiva, subjetivamente avaliadas como agradáveis, e positivas). Já os estados de histeria, são caracterizados por sensação intensa e emoção excessiva, mas subjetivamente de teor negativo (raiva, medo, terror, pânico etc.). Os estados de Fragmentação (falta de integração entre segmentos, aspectos ou assuntos importantes da personalidade total: psicose, psiconeurose aguda, dissociação).
Os estados regressivos nesta proposta são os de maior relevância por se caracterizarem diferenciados e inadequados em relação ao estado fisiológico e a idade cronológica do indivíduo. A experiência desses estados pode ser temporária “regressão de idade” num processo terapêutico, ou de longa duração num processo de diversos tipos de senilidade. Nos estados meditativos a atividade mental é mínima e com ausência de imagens visuais. Os estados de transe podem ser alcançados através da vigilância e concentração da atenção num único estímulo. Podem ser provocados pela voz de outro individuo, música, rituais indutores de transe, dança entre outros. O devaneio pode ocorrer durante o transe e é semelhante a um sonho. O estado de fantasia pode ocorrer até de olhos abertos de maneira espontânea e ter pouca relação com o meio ambiente. O estado interior caracteriza-se pela percepção de sensações físicas, não reflexivas, a não ser com algum esforço planejado por parte da pessoa. O estado de estupor pode ser provocado por certos tipos de drogas como álcool, opiatos ou por psicose. O estado de coma é uma incapacidade de perceber os estímulos presentes. A memória armazenada pode vir à consciência quando o indivíduo faz algum esforço consciente ou evocado por livre associação. Os estados conscientes “expandidos” desenvolvem-se em quatro níveis diferentes: sensório (subjetivo em relação ao espaço, tempo, imagem do corpo e das impressões sensórias), evocativo analítico (ideias e pensamentos novos acerca de si mesmo e do mundo), simbólico (identificação com personalidades históricas, ou lendárias) e integral (poucos atingem, por estar relacionada a experiência religiosa e ou mística máxima). Por último o estado “normal”, comum, desperto, lógico pautado na racionalidade pelo pensamento de causa e efeito, portanto objetivo, consciente. O propósito terapêutico da modificação do estado da consciência é permitir que conteúdos recalcados, traumas, conflitos fluam para a periferia da consciência de forma simbólica, representativa ou reprodutiva do evento passado. No entanto, o Ser humano desde tempos primitivos busca ampliar sua percepção ou estado de consciência. Parece que há um desejo intrínseco na busca da transcendência mesmo que a intenção não seja essa diretamente. Compreender esses mecanismos e os caminhos utilizados nesse processo ajuda a delinear um panorama empírico para maior exploração do tema.